A recente operação Disclosure, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF), trouxe à tona um suposto esquema de fraudes contábeis envolvendo a gigante do varejo Americanas (AMER3). A investigação, sustentada por um acordo de colaboração premiada, aponta irregularidades significativas na gestão anterior da empresa, provocando um impacto profundo na confiança dos investidores.
A operação Disclosure foi lançada nesta quinta-feira, 27 de junho, focando em ex-diretores da Americanas. De acordo com o MPF, a atual administração da empresa procurou as autoridades para colaborar com as investigações, fornecendo informações detalhadas sobre os mecanismos utilizados para fraudar as finanças e enganar o mercado de capitais. Essa cooperação foi crucial para a ação, que já estava sendo conduzida pela Polícia Federal.
Desfalque bilionário
Conforme as investigações progrediram, descobriu-se que as supostas fraudes contábeis resultaram em um desfalque de R$ 25,3 bilhões no patrimônio da Americanas. Este valor foi divulgado em um fato relevante pela empresa no ano passado, revelando a magnitude do problema.
A Polícia Federal informou que as fraudes envolviam contratos de verba de propaganda cooperada (VPC) e operações de risco sacado, entre outros métodos. As VPCs, que são incentivos comerciais usados no setor, foram contabilizadas de forma irregular, com valores que nunca existiram.
Ação da Polícia Federal
Durante a operação, foram expedidos dois mandados de prisão preventiva contra ex-diretores da Americanas. No entanto, essas prisões não puderam ser efetuadas porque os acusados estavam fora do país. Um dos alvos é Miguel Gutierrez, ex-diretor-executivo, que reside em Madrid desde o ano passado, quando o caso veio à tona.
Além disso, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão nas residências dos ex-executivos no Rio de Janeiro. A Justiça Federal também determinou o sequestro de bens e valores dos ex-diretores, totalizando mais de meio bilhão de reais.
Entre os principais acusados, além de Miguel Gutierrez, estão outros ex-diretores que ocupavam posições estratégicas na Americanas e na B2W Digital, a antiga operação on-line da empresa. As acusações contra eles incluem manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Se comprovadas, essas acusações podem resultar em penas severas, de até 26 anos de prisão.
Impacto no mercado e na governança corporativa
O escândalo envolvendo a Americanas não apenas levanta questões sobre a integridade das práticas de gestão de grandes empresas, mas também destaca a importância da transparência e do rigor nos processos contábeis e fiscais. O mercado de capitais brasileiro, assim como os investidores, está agora extremamente atento às repercussões desse caso. A operação Disclosure serve como um alerta sobre os riscos de práticas contábeis inadequadas e a necessidade de uma governança corporativa mais sólida.
Segundo o MPF, a atual direção das Americanas está cooperando ativamente com os investigadores, fornecendo informações valiosas sobre como as fraudes foram orquestradas. Esta colaboração é vista como um passo importante para esclarecer os fatos e punir os responsáveis. Além disso, a operação conta com o apoio técnico da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que está auxiliando na análise das irregularidades contábeis.
Consequências e futuro das investigações
Com a investigação ainda em andamento, espera-se que novas informações venham à tona, oferecendo uma compreensão mais ampla das dimensões do esquema de fraudes. As medidas adotadas para lidar com esse caso poderão estabelecer precedentes importantes para a prevenção de práticas semelhantes no futuro. A governança corporativa no Brasil enfrenta desafios significativos, e casos como o das Americanas evidenciam a necessidade de melhorias estruturais para proteger os interesses dos investidores e garantir a transparência no mercado.