A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara deu um importante passo nesta quarta-feira (9), ao aprovar por 39 votos a 18, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita as decisões monocráticas dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Essa proposta visa modificar o funcionamento do Judiciário brasileiro ao restringir o poder decisório individual de magistrados em casos de grande relevância política e jurídica. Após ser aprovada na CCJ, a PEC seguirá para análise em comissão especial antes de ser debatida pelo plenário.
A PEC faz parte de um conjunto de medidas que buscam redefinir as atribuições do STF, e agora avança para um novo estágio de discussão e votação. O tema já havia sido discutido em outras quatro ocasiões, sempre resultando em adiamentos.
O que muda com a restrição a decisões monocráticas?
A aprovação da PEC na CCJ centraliza uma questão que vem sendo foco de debates entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário: a autonomia do STF ao proferir decisões de forma individual.
A proposta estabelece que ministros do STF, bem como de outros tribunais superiores como o STJ e o TSE, não poderão suspender, de forma monocrática, a validade de atos do presidente da República, do Senado ou da Câmara. Essa limitação visa evitar decisões que possam interferir diretamente na política nacional sem um julgamento colegiado.
Além disso, a PEC proíbe a suspensão monocrática da eficácia de leis ou atos seja do Executivo ou Legislativo, proporcionando uma nova dinâmica para a interação entre os poderes. O Senado já havia aprovado essa mudança em 2023.
Quais são as exceções propostas pela PEC?
Mesmo com as restrições, a PEC prevê algumas exceções. Durante o recesso do Judiciário, por exemplo, decisões monocráticas ainda poderão ser tomadas em casos de grave urgência ou risco de dano irreparável, desde que impliquem a suspensão de uma lei.
No entanto, para garantir que tais decisões sejam devidamente avaliadas, o tribunal é obrigado a julgar o mérito em até 30 dias após o retorno dos trabalhos. Caso contrário, a decisão perderá sua eficácia.
A PEC é uma ameaça à separação de poderes?
A PEC gerou controvérsias e foi alvo de críticas sob a alegação de que poderia ameaçar a separação de poderes, um princípio central da democracia brasileira.
No entanto, defensores da proposta, como o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), afirmam que a intenção não é tomar partido, mas sim aperfeiçoar o processo decisório do Judiciário. Segundo ele, trata-se de uma medida “apartidária” que busca a melhoria das decisões do poder Judiciário.
Os próximos passos para a PEC
Após a aprovação na CCJ, a PEC enfrenta um novo desafio: ser analisada por uma comissão especial e, posteriormente, ser votada no plenário da Câmara.
Caso passe por essas etapas sem modificações, poderá ser promulgada. No entanto, o caminho não é simples, uma vez que partidos como PSOL, PT, PV e PCdoB já se posicionaram contra, defendendo que a proposta fere o equilíbrio entre os poderes.
Além disso, há um pacote de propostas que limita ainda mais as decisões do STF, incluindo a ampliação dos crimes de responsabilidade de ministros e a possibilidade de o Congresso sustar decisões do Supremo, ou seja, medidas que aumentam a responsabilidade e a fiscalização sobre o Judiciário.